ASPECTOS PARA A QUALIDADE DE UMA ESCOLA INESQUECÍVEL

Autora: Cíntia Dahlke Leonhardt

ASPECTOS PARA A QUALIDADE DE UMA ESCOLA INESQUECÍVEL


RAMOS, Paulo. Como Tornar uma Escola Inesquecível
na Metadisciplinaridade? Blumenau: Odorizzi, 2010.


Algo inesquecível é algo especial. Assim como em nossas famílias, também na educação podemos e devemos seguir princípios que amparam nossas crenças e fortalecem nossa existência e função de educadores/gestores que pretendem promover o sucesso escolar para todos os educandos. Tanto na vida pessoal quanto na profissional precisamos ressaltar as alegrias para que sejamos otimistas. E encontrar essa felicidade é estar cônscio do importante papel que a cultura e o poder de escolha exercem nessa relação dentro da escola, principalmente em sala de aula. Assim, podemos afirmar que uma escola feliz é uma escola inesquecível. Bem como que a qualidade é também fundamental numa escola que pretende ser inesquecível, e que essa, se deve a alguns aspectos fundamentais para a própria qualidade e que estão diretamente relacionados à implementação dos pilares que sustentam a metadisciplinaridade que são: o planejamento, a formação, a avaliação, a inclusão e a própria qualidade.
Existe uma relação direta e imprescindível entre escola inesquecível e planejamento. Sendo o planejamento, a definição das prioridades, metas e finalidades; a programação e organização das ações e espaços na escola. O planejamento deve ser democrático e abranger a todos os segmentos. Planejar é pensar a realidade com o propósito de definir para que e o que deve ser mudado. No planejamento participativo inicia-se pela sondagem da realidade através de uma interpretação positiva ou negativa a fim de traçar metas conscientes a seu respeito. Segundo Ramos (2010, p. 18), “o planejamento participativo não resulta da participação de técnicos especializados, mas da valorização da construção coletiva, consistindo numa preparação crítica embasada na reflexão sobre a prática de mudança.” O que é um avanço no sentido de possibilitar a democratização de gestão e uma importante ferramenta para a promoção da qualidade do ensino. O planejamento participativo metadisciplinar é norteado por três questões básicas: Onde estamos? Para onde vamos? E qual o caminho mais adequado para chegar onde desejamos? E nesse planejar o educador deve assumir uma atitude crítica e reflexiva quanto ao exercício docente voltando-se


[...] para a escola (que rompe com o abismo que separa a teoria e a prática), para o método (promovendo um resgate da identidade e cidadania do sujeito), para a relação professor-aluno (concebendo o professor como assessor e o aluno como sendo capaz de compreender os conteúdos conceituais), para os conteúdos (conceituais, atitudinais e procedimentais), para o mundo (construído pelas experiências e vivências pessoais) e para os métodos avaliativos (que devem partir das dúvidas e certezas dos educandos). (RAMOS, 2010, p. 23-24).


O gestor, no planejamento metadisciplinar, deve seguir o princípio da democracia, tendo amplo conhecimento da dimensão administrativa, financeira, jurídica e pedagógica; deve ainda se envolver e buscar sempre o envolvimento dos diversos segmentos que compõe a comunidade escolar, fazendo-os participar, opinar, planejar, avaliar e implementar as propostas.
Segundo Ramos (2010, p. 36), no plano metadisciplinar o professor parte de três eixos:


1) Diagnóstico: trata-se da análise da realidade presente do aluno a partir dos referenciais filosóficos, psicológicos e pedagógicos estabelecidos no Projeto Político Pedagógico da instituição, e da análise dos dados bio-psico-sociais e dos avanços e dificuldades apresentados pelo mesmo.
2) Metas e finalidades: trata-se dos objetivos que são estabelecidos com o gestor, coordenadores, pais e alunos, enfim, com a comunidade escolar, mediante a adoção de um processofólio.
3) Métodos: trata-se dos caminhos que serão seguidos para consecução dos objetivos estabelecidos a partir do diagnóstico da realidade analisada. Ou ainda, do compromisso assumido entre o gestor, coordenadores, pais e alunos diante dos princípios filosóficos, psicológicos e pedagógicos norteadores de toda ação administrativa e pedagógica da escola, bem como dos temas centrais de cada área de estudo a ser pesquisada no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. (RAMOS, 2010, p. 36-37).

[...] a implementação do plano de aprendizagem prevê a manutenção de quatro liberdades básicas para que o aluno possa construir o conhecimento:
1) Perguntar: garantia do respeito à pergunta e que a mesma seja trabalhada.
2) Errar: compreensão pelo ato de ousar e correr o risco pela ousadia.
3) Escolher: permissão ao aluno para escolher a melhor maneira de solucionar um problema.
4) Pensar: liberdade para criar e recriar. (RAMOS, 2010, p. 38).

O Projeto Político Pedagógico é o resultado do que foi coletivamente planejado e é o meio através o qual se operacionalizam as ações, favorecendo a coparticipação de todos os segmentos envolvidos e sobressaindo a concretização da ideia de cada envolvido, ou seja, o que faz de uma escola planejada, uma escola inesquecível.
Com a própria evolução humana há a ampliação do conhecimento a cerca de todas as coisas, fazendo com que tenhamos que saber cada vez mais, sobre mais coisas. Assim, a formação docente inicial e/ou continuada passa a exercer papel fundamental para a qualidade da educação. Haja vista, que o professor é a peça chave para a qualidade do ensino, mas não o único responsável, já que seu papel é o de fomentar o ser além do saber e ter, principalmente numa visão geral, o que pode ser denominado de postura metadisciplinar. O professor inesquecível torna a escola inesquecível na medida em que evidencia suas competências metadisciplinares tornando-se um profissional compromissado e promotor da educação de qualidade, que sabe pensar e refazer sua formação e sua prática, uma em sintonia com a outra.
A avaliação na educação é constantemente debatida quanto ao seu objetivo, significado e finalidade e, embora, seja algo inerente à ação humana, é na educação que exerce um papel fundamental para uma escola inesquecível. Pois, a avaliação não deve ser um fim e sim um meio, considerando a heterogeneidade dos envolvidos e não apenas classificar, mas diagnosticar e mostrar os caminhos já alcançados e os ainda a percorrer. Segundo Ramos (2010, p.70) a avaliação diagnóstico-formativa pauta-se em critérios de entendimento que permitem “avaliar e autoavaliar, a saber: entendimento reflexivo, conectado, compartilhado e autonomizador, e em cuja base se encontra os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais.” Ao utilizar a prática da autoavaliação e da autocrítica, a metadisciplinaridade terá cumprido a função de tornar a escola inesquecível, pois sempre levará em conta: quem avaliamos, o que, para que e como avaliamos. Ou seja, a avaliação deixa o aspecto classificatório e assume o aspecto diagnóstico.
A inclusão educacional, hoje, trata da garantia de acesso e permanência com qualidade para todos, independente de haver dificuldade ou necessidades especiais. Sabe-se que no decorrer da história da humanidade vários foram os tratamentos às pessoas com deficiência, desde abandono e exclusão. Mas hoje a sociedade trata da inclusão de todos, sejam deficientes ou não, afinal todos somos diferentes, melhores ou piores em uma ou outra coisa. E essas diferenças que devem ser aceitas e incluídas educacional e socialmente. Porém, é notório que ainda são os portadores de necessidades especiais que mais sofrem para serem incluídos nas escolas, pois além da falta de estrutura física ainda encontram barreiras advindas da formação docente e do currículo. A discriminação das diferenças é o maior desafio posto à educação Inclusiva, mas é o ensino através da metadisciplinaridade que permite “vislumbrar uma sociedade menos preconceituoso, mais solidária e mais igualitária, capaz de promover a equiparação de condições entre os sujeitos que dela fazem parte.” (RAMOS, 2010, p. 92). Assim, a escola que é capaz de reconhecer e acolher adequadamente as diferenças e disponibilizar múltiplos recursos e profissionais especializados ao atendimento dos alunos com habilidades educativas especiais ou não, é sem sombra de dúvidas uma escola inesquecível.
O acesso à educação é um direito crucial de cada ser humano, assim como a permanência e a qualidade dessa educação, também o são. Mas ao tratarmos da qualidade, deparamo-nos com os aspectos quantitativos e os qualitativos. A metadisciplinaridade aborda essa problemática sob o ponto de vista global, porque entende que a “boa qualidade na educação deve facilitar e contribuir para a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes que têm valor intrínseco, bem como ajudem no encaminhamento de metas humanas importantes.”
Ramos (2010, p. 107) para especificar o dito acima, segue dez medidas, que aproximam as noções de meta e qualidade em educação:
  1. Seleção rigorosa – os talentos ensinam. Então na entrada para atuar como professor apontaria para três efeitos positivos: 1- não se desperdiçaria tempo, nem dinheiro no ingresso de profissionais sem talento. 2- a qualidade dos cursos aumentaria. 3- a carreira de professor, naturalmente, ganharia novo status.
  2. Treinamento em serviço – semanalmente com questões básicas que norteiam o processo de ensino e aprendizagem, construir um espaço de produção de novos conhecimentos, de troca de diferentes saberes, de repensar e refazer sua prática.
  3. Implantar grupos de pesquisas nas diversidades e do desejo (GPDD) – formação de grupos que obedece ao interesse dos alunos pelo assunto abordado, além de oportunizar a interação entre as mais diversas faixas etárias, bem como o respeito entre eles.
  4. Estágio probatório com tutoria – ninguém se forma sem antes entrar em sala de aula na função de professor, onde são acompanhados por espécies de tutores com a tarefa de avaliar o desempenho dos aspirantes a professor, corrigir eventuais falhas e ensinar tudo na prática.
  5. Valorização do professor – um bom salário inicial como poderoso fator de atração de gente talentosa. E sistemas meritocráticos, nos quais os melhores ganham mais dinheiro e responsabilidade, bem como vislumbram no horizonte a possibilidade de exercer diferentes funções.
  6. Treinamento para diretores – quanto mais eficiente é o diretor, melhor é o ensino da escola. É preciso chegar aos melhores e treiná-los para exercer a função. Além de provar, por meio de avaliações, ter aprendido a traçar metas, cobrar resultados e estimular uma equipe.
  7. Auditoria nas escolas – monitorar a qualidade do ensino por meio de critérios objetivos é básico.
  8. Planejamento para ensinar – a observância aos princípios filosóficos, psicológicos e pedagógicos, passando a ter referenciais bem definidos para nortear as ações educacionais.
  9. Reforço escolar – em cada escola há alguém designado para ministrar as aulas particulares. Ganhando mais e tendo boas condições de trabalho, com treinamentos e ajuda de psicólogos para lidar com os casos mais difíceis.
  10. Implantar o fim da seriação – nos anos iniciais habilitar o professor na área de interesse.
Enfim, parece provado que através da metadisciplinaridade é possível tornar uma escola inesquecível.
Ao ler o livro “Como tornar uma escola inesquecível na metadisciplinaridade?”, encontrei dificuldades, apesar das diversas provocações e explicitações acerca da qualidade na educação que o livro apresenta e de alguns temas já terem sido abordados por outros livros. Mas aqui evidenciaram a crucial função para uma escola inesquecível. Porém, o maior complicador foi verificar, ou melhor, admitir e confirmar que, mesmo diversos estudos e teorias apontarem a necessidade e urgência em tratar o sistema educacional público com mais afinco para alcançar a qualidade que é equivocadamente apresentada de maneira fragmentada no decorrer dos anos. O que vivenciamos atualmente é uma deprimente greve para fazer cumprir uma lei. Fico indignada e muito, mas muito frustrada em ter que interromper o meu trabalho na minha unidade escolar para que meus direitos salariais sejam reconquistados, pois o gestor estadual de maneira muito simples e rápida conseguiu desestimular toda uma classe, achatando a carreira e retirando direitos conquistados. É inevitável registrar que foi necessário iniciar a leitura do referido livro mais de cinco vezes e me esforçar muito para acreditar que tudo isso, que o livro aborda, é possível. Também é necessário registrar que isso é a prova de que a felicidade é necessária e que a influência cultural é grande, pois diante o exposto pelo livro o meu posicionamento estava prejudicando a assimilação do seu conteúdo. É inesquecível admitir que muito depende do posicionamento que tomamos, pois esse é o fio condutor das nossas interpretações, reflexões e ações em todos os aspectos de nossas vidas. Mas também é inesquecível registrar a conclusão de que a metadisciplinaridade aponta a teoria e a metodologia para uma escola realmente inesquecível.



Cíntia Dahlke Leonhardt
Aluna Pós-Graduação IESAD
Blumenau, APAE / 2011