QUALIDADE NA EDUCAÇÃO PRIORIDADE PARA POUCOS

Autora: Zeli Aparecida de Camargo

 UALIDADE NA EDUCAÇÃO PRIORIDADE PARA POUCOS

 
 
RAMOS, Paulo. Como desenvolver uma educação de qualidade com os pilares da metadisciplinaridade? 3.ed. Blumenau: Odorizzi, 2011. Capítulos 1 e 6.
 
 
A escola tem como função transmitir o conhecimento, para que este proposito se confirme, são utilizados um corpus de disciplinas um vasto conjunto cultural amplamente original que conforme Chervel (1990, p.200), “[...] ao longo de século secretou e funciona como uma mediação posta a serviço da juventude escolar em sua lenta progressão em direção à cultura da sociedade global.” Portanto, a escola trata o conhecimento de forma fragmentada, tendo assim o curriculum formal, que é o conhecimento científico ensinado nas escolas; o curriculum real, que é o conhecimento adquirido, ou seja a aprendizagem efetiva do aluno.
A metadisciplinaridade aproxima estes dois tipos de conhecimento, ou seja, aproxima o aluno ao objeto de estudo de uma maneira integral, fazendo com que haja uma visão global do conhecimento escolar.
A busca pelo conhecimento é algo inerente ao ser humano, pois segundo um antigo filósofo de Estagira “todos os homens por natureza desejam conhecer”. Este desejo pelo conhecer está incutido como uma das características do ser humano. Ao lançar-se em busca às questões mais básicas da vida, o homem parte em busca do conhecimento. Mas o que é conhecimento? Conhecimento é o que resulta da relação entre o sujeito e o objeto a ser conhecido.
Segundo Aristóteles, há dois tipos básicos de conhecimento: o sensível, que é o tipo de conhecimento aprendido pelos sentidos corporais. E o intelectual, que se inicia com a observação das coisas e culmina em conclusões gerais e sistemáticas a respeito da realidade. Portanto, a ciência possibilita a continuidade entre o conhecimento sensorial e o intelectual. O conhecimento científico não é a única forma de se obter o conhecimento. O que distingue e caracteriza as diferentes espécies de conhecimento é o modo de conhecer e os instrumentos do conhecer. (RUIZ, 2002). Portanto, o mesmo objeto pode ser conhecido por diferentes perspectivas. Então se pode afirmar que há diversas formas de conhecimento, tais como o conhecimento empírico, o teológico, o filosófico, o científico e o tecnológico, entre outros.
No âmbito escolar o conhecimento é apresentado de forma fragmentada, organizado em disciplinas nas quais é construído uma imagem fragmentada da realidade, “a transmissão da ciência pela escola centra-se na questão dos princípios fundadores de cada área do conhecimento, ou nos processos metodológicos e intelectuais que lhes são próprios.” (VALDEMARIM, 1998, p.05).
Sabendo que há esta fragmentação entre o conhecimento científico e o escolar aproximá-los da realidade torna-se um desafio nos processos pedagógicos. Sendo assim a interdisciplinaridade tem sido apresentada como a principal aposta, para que essa fragmentação seja superada seja ela no campo cientifico como no educacional. A interdisciplinaridade então se apresenta como algo real e efetivo para o conhecimento, isso nos leva a analisar os diferentes níveis compreendidos pela abordagem interdisciplinaridade. As abordagens contemporâneas podem ser vistas em cinco modalidades diversas:
A interdisciplinaridade que é a interação entre as disciplinas, servindo assim, de principio orientador para a compreensão da ciência por parte dos próprios cientistas, além de permitir o diálogo entre as disciplinas e o cotidiano. No entanto esta modalidade mostra-se incapaz de lidar com outras questões no âmbito escolar tais como problemas comportamentais.
A multidisciplinaridade apresenta-se como o método tradicional da educação onde cada disciplina é trabalhada de forma isolada não produzindo assim um conhecimento significativo, mas sim algo isolado fora da realidade do aluno de seu cotidiano.
A pluridisciplinaridade, também chamada de interdisciplinaridade composta, consiste apenas na troca de informações entre disciplinas afins tais como a história e a geografia entre outras.
A transdisciplinaridade consiste na junção de diferentes disciplinas com um só objetivo o de trabalhar em conjunto para se acabar com a fragmentação do conhecimento, no entanto é um ideal muito longe de ser concretizado.
A metadisciplinaridade consiste em apresentar um olhar universal sobre o objeto ou problema apresentado, efetivamente estabelece vínculos ou relações entre as disciplinas aproximando dos objetos de estudo a partir de uma ótica global, no qual as disciplinas não são o ponto de partida, mas sim um meio para se conhecer a realidade. Então, a metadisciplinaridade vem se impondo como um princípio de integrar a realidade escolar e tem como função intermediar o diálogo do sujeito com o objeto, com as disciplinas e como contexto educacional em que estão inseridos. No entanto, esta estratégia exige muito mais do professor no sentido de ser inovador e original.
Contudo, para que essas mudanças realmente ocorram na educação faz se necessário que haja mais qualidade na educação, pois Segundo a Declaração universal dos direitos humanos da Organização das nações Unidas (ONU), A educação é um direito de todos. Mas ao observarmos o panorama educacional mundial, vemos que essa afirmação não corresponde a realidade, pois a educação hoje deixa a desejar tanto no aspecto qualitativo quanto quantitativo.
A metadisciplinaridade prioriza tanto os aspectos qualitativos quanto os quantitativos na educação.
A qualidade na educação ficou omissa em documentos que tratam do assunto ate meados dos anos de 1990, “[...] omissos com relação à qualidade do desempenho dos sistemas educacionais e ás expectativas sobre como devem e podem atender tais objetivos.” (UNESCO, 2005, p.28). Logo fica a evidencia de   que a havia então a preocupação com a quantidade de pessoas frequentando as escolas e não com a qualidade de ensino destas., a grande preocupação eram com as estatísticas. A questão da qualidade passou a ser discutida apenas no final do século XX. Foi o Marco de Ações de Dacar, em 2000, que passou a reconhecer a qualidade como fator primordial na consecução da educação para todos (EPT) tão disseminada nos anos anteriores. Neste documento são elencadas seis metas para que o objetivo da qualidade realmente se efetive. Neste documento fica firmado o compromisso de garantir que haja educação primária de qualidade e gratuita até 2015, e também assegura que haja melhorias em todos os aspectos da qualidade de educação.
Mas o que define qualidade na educação? Há diversas abordagens que tentam definir este ponto, segundo Adams (1993) há pelo menos 50 definições para o termo “qualidade” na literatura educacional especializada.
Na abordagem defendida pela UNESCO, para a educação de qualidade considera que a aprendizagem se dá em dois níveis distintos; o do aluno e do sistema de aprendizagem. Então se percebe que esta abordagem centra-se no aluno, mas sem esquecer o meio que o cerca. Ela reconhece que o fracasso no desenvolvimento de muitas crianças é devido à deficiência na qualidade de educação. (UNESCO, 2003, 2005).
Na abordagem do UNICEF para a qualidade na educação foi apresentada detalhadamente em um documento chamado “Definindo Qualidade na Educação” de 2000. Este estudo enfatiza as dimensões desejáveis para a qualidade, o que já havia sido enfatizado no marco de Dacar, que são: o aluno, o ambiente, o conteúdo, os processos e os resultados. O suporte para lidar com estas dimensões são “[...] os direitos de cada criança, e de todas as crianças, a sobrevivência, proteção, desenvolvimento e participação”. (UNICEF, 2000). Ambas as dimensões da UNESCO e UNICEF fazem sua fundamentação filosófica alicerçada na filosofia da convenção sobre os direitos da criança da ONU, 2001.que ressalta que a criança deve atingir seu pleno potencial em termos de capacidade cognitiva, emocional e criativa. Esta abordagem ainda salienta a construção de currículos que atendam as prioridades do aluno, sua família e sua comunidade. (UNESCO, 2005, p.35).
Essas duas abordagens incorporam elementos teóricos diferentes do que constitui a qualidade no ensino e aprendizagem, assim como o sistema educacional que reflete vários modelos as tradições ou abordagens também não devem ser vistas de forma única. Logo temos algumas abordagens a se considerar como a Humanista que tem como base o construtivismo social onde o conhecimento não é padronizado por currículos e o professor é um mediador entre o aluno e o conhecimento. A Behaviorista que não é muito bem aceita pois apresenta currículos padronizados e o professor é o detentor do conhecimento. A Crítica que tende a associar a qualidade de ensino com as mudanças no sistema, pois estimula a análise crítica das relações de poder social e das maneiras pelos quais o conhecimento é produzido e transmitido. E por último a metadisciplinar que defende uma visão global do conhecimento no qual para se ter qualidade na educação é necessário ter planejamento, conhecimento, inclusão, formação e avaliação.
Portanto, diferentemente das outras abordagens, a metadisciplinaridade coloca-se como uma ferramenta viável para se ter qualidade na educação por ter esta visão universal de todos os aspectos do sistema educacional. Contudo, não são apenas estes os benefícios da abordagem metadisciplinar. Esta abordagem ainda apresenta dez medidas teóricas e práticas que aproximam a metadisciplinaridade da qualidade na educação. Essas medidas são:
·      Os talentosos ensinam: a qualidade de ensino passa pela qualidade de seus educadores.
·      Treinamento em serviço: a formação do professor em serviço contribui para a qualidade de ensino.
·      Implantar grupos de pesquisas na diversidade e do desejo GPDD;
·      Estágio probatório com tutoria;
·      Valorização do professor;
·      Treinamento para diretores;
·      Auditoria nas escolas;
·      Planejamento para ensinar;
·      Reforço escolar;
·      Implantar o fim da seriação.
            Dos dois capítulos do livro os quais li para fazer essa resenha achei extremamente interessante pois, faz primeiramente uma análise do que é conhecimento, quais os tipos de conhecimento e nos traz varias visões sobre o mesmo assunto.
Contudo o capítulo seis, sobre a qualidade da educação penso ser em minha opinião o mais interessante, pois a forma que nos apresenta as diferentes abordagens e documentos que se fossem postos em prática o Brasil com certeza, estaria entre os primeiros colocados no ranking mundial quando se fala em educação de qualidade. No entanto, em vez disso vemos um sistema engessado sem possibilidades de que os alunos sejam detentores de conhecimento e sim meros “reprodutores” de conteúdos fragmentados sem nenhuma ligação com a realidade.
            Em todos os documentos relacionados ao assunto, lidos neste livro muito se fala, que todos têm direito à educação, porém percebe-se na prática que há sim uma preocupação com estatísticas, com números, pena que não há a preocupação com a qualidade pois o que se vê no sistema de ensino atual é a promoção automática de alunos, sem terem adquirido os conhecimentos básicos como a leitura e a interpretação. Hoje se vê muitos saindo da Educação Básica sabendo apenas reproduzir conteúdos desconexos sem ter um significado real para ele. Penso que se fosse adotada a metadisciplinaridade nas nossas escolas, alcançaríamos, talvez a longo prazo, uma melhor qualidade para a educação e também formaríamos cidadãos mais conscientes de seu papel na sociedade e também mais preparados para a vida.  
 
 
                                                                                              Zeli Aparecida de Camargo
Blumenau – 2012